terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


O Vigiador


"Toda a minha vida, tive medo de homens velando sobre mim. Suponho que o primeiro homem a velar sobre mim foi meu pai, mas ele sumiu antes que eu pudesse recordá-lo. Por alguma razão, quando eu era menino, gostava de brigar. Grande parte das vezes eu perdia. Outro menino, às vezes com sangue pingando do nariz, erguia-se acima de mim. Muitos anos depois precisei me esconder. Procurava não dormir, porque tinha medo de quem estaria lá quando eu acordasse. Mas tive sorte, era sempre meu amigo. Quando estava escondido, eu sonhava com um certo homem. O mais difícil foi quando viajei para ir ao encontro dele. Por pura sorte e depois de muitas passadas, consegui. Fiquei dormindo por muito tempo. Três dias, disseram-me... E o que encontrei ao acordar? Não um homem, mas uma outra pessoa a me vigiar. Com o passar do tempo, a menina e eu descobrimos que tínhamos muitas coisas em comum. Mas há uma coisa estranha: a menina diz que eu pareço outra coisa. Agora moro num porão. Os sonhos ruins ainda vem no meu sono.Uma noite, após meus pesadelos habituais, uma sombra ergueu-se sobre mim. Ela disse: conte-me o que você sonha. E eu contei. Em troca, ela me contou do que eram feitos seus próprios sonhos. Agora, acho que somos amigos, essa menina e eu. Em seu aniversário, foi ela quem deu um presente - a mim. Isso me fez compreender que o melhor vigiador que eu conheci não é um homem."



(Trecho extraído do livro "A Menina Que Roubava Livros")



Não sei o por quê, mas já li e reli essa parte pelo menos um milhão de vezes. Quem leu o livro, sabe do que estou falando. Marcus Zusak tem a linguagem que todo ser humano deveria ter: ele é simples. Humana e sabiamente simples. As palavras são suas súditas, e ele o seu senhor. Ele consegue marcar um coração atento às minúncias dessa vida.. O meu foi um desses.

4 comentários:

Anônimo disse...

Comecei a ler este livro essa semana, espero gostar, afinal só escuto ótimos comentários...

bjo

Anônimo disse...

Samuel leu, adorou e me emprestou!
Ainda não li pq tem dois livros na frente dele!!!

bjo

Anônimo disse...

Perdoe-me a inconveniência, mas a palavra "minúncias" esta incorreta. O certo seria "minúcias":s.f. Cuidado com as menores particularidades. / Minudência; coisa muito miúda. / Coisa insignificante, de pouca importância e pouco valor; ninharia, nonada, tuta-e-meia.
PS.: A INTENÇÃO É QUE ESTA SEJA UMA CRÍTICA CONSTRUTIVA, NÃO INTERPRETE MAL ESTE HUMANO ANÔNIMO.

Marina Rima disse...

É uma parte realmente triste e linda do livro, deixa os olhos úmidos e um sorriso tímido nos lábios.
Uma das belas, eu diria.