segunda-feira, 30 de junho de 2008

Envelhecendo..


Não é fácil ter 20 anos quando esperam que você viva como se tivesse 15 e, na verdade, você tem alma de 60.

Eles gostam de música eletrônica, eu prefiro a bossa.
Eles são movidos a “Ice”, eu não sobrevivo sem café.
Eles gostam de alta velocidade, eu estremeço à menor variação no velocímetro.
Eles querem aventura, eu busco quietude.
Eles gastam fortunas para estar onde a farra acontece, eu acho um desperdício.
Eles se jogam ao som de "Don't Stop The Music", eu falto pouco voar ouvindo "Depois de ter você".
Eles não conhecem 14 bis, eu não conheço Bob Marley.
Eles gostam de boates, eu prefiro os livros.
Eles são da noite, eu sou da cama.
Eles são diretos, previsíveis, eu gosto de sutilezas.
Eles são inquietos, eu poderia passar a tarde inteira aqui.. Conversando sobre o tempo.
Eles curtem hip hop, eu ouço Guarani FM.

Não tenho "miguxas", não converso "axim", não sei dançar!
Não sei nadar, tenho preguiça de correr, odeio futebol, não freqüento academia!
Sou mais os melodramas, as crianças, as conversas, as tardes cheirando a broa de fubá com café.
Gosto dos ditados populares bem colocados, das palavras requintadas, do português erudito, dos casos, da pureza do ser humano.
Me prendo aos detalhes sem importância para outrem.
Sou contra os relacionamentos superficiais, de pessoas que não se prendem a nada e a ninguém.
Tenho aversão a esse feminismo exacerbado e essa mania louca de independência da mulher.
Acho que a vida antigamente era mais fácil, ou na pior das hipóteses, menos exaustiva.

Não é fácil. Se eu queria ser diferente? Não! Queria ser assim mesmo! Carregando a saudade de lembranças que o tempo me deixou, regada por velhos costumes. Na boca ainda guardo o gosto da infância de pés no chão e cabelo bagunçado. Daquele tempo guardado em minha memória..

domingo, 29 de junho de 2008

Palavras ao vento.



A primeira letra do alfabeto é também a primeira letra da palavra amor e se acha importantíssima por isso! Com A se escreve ARREPENDIMENTO, que é uma inútil vontade de pedir ao tempo para voltar atrás; e com A se dá o tipo de tchau mais triste que existe: ADEUS. Ah, é com A que se faz ABRACADABRA, palavra que se diz capaz de transformar sapo em príncipe e vice-versa.
Com B se diz BELO - que é tudo que faz os olhos pensarem ser coração; e se dá a BÊNÇÃO, um sim que pretende dar sorte.
Com C, CALENDÁRIO, que é onde moram os dias; e o CARNAVAL, esta oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada. CIVILIZADO é quem já aprendeu a cantar "parabéns pra você" e sabe o que é CONTRATO: "você isso, eu aquilo, com assinatura em baixo".
Com D, se chega à DEDUÇÃO, o caminho entre o "se" e o "então". Com D começa DEFEITO, que é cada pedacinho que falta para se chegar à perfeição; e se pede DESCULPA, uma palavra que pretende ser beijo.
E tem o E de EFÊMERO, quando o eterno passa logo; de ESCURIDÃO, que é o resto da noite se alguém recortar as estrelas; e EMOÇÃO, um tango que ainda não foi feito. E tem também EBA!, uma forma de agradecimento muito utilizada por quem ganhou um pirulito, por exemplo.
F é para FANTASIA, qualquer tipo de "já pensou se fosse assim?"; FÁBULA, uma história que poderia ter acontecido de verdade, se a verdade fosse um pouco mais maluca; e FÉ, que é toda certeza que dispensa provas.
A sétima letra do alfabeto é G, que fica irritadíssima quando a confundem com o J. G, de GRADE, que serve para prender todo mundo - uns dentro, outros fora; G de GOLEIRO, alguém em quem se pode botar a culpa do gol; G de GENTE: carne, osso, alma e sentimento, tudo isso ao mesmo tempo.
Depois vem o H de HISTÓRIA: quando todas as palavras do dicionário ficam à disposição de quem quiser contar qualquer coisa que tenha acontecido ou sido inventada.
O I de IDADE, aquilo que você tem certeza que vai ganhar de aniversário, queira ou não queira.
J de JANELA, por onde entra tudo que é lá de fora; e de JASMIM, que tem a sorte de ser flor e ainda tem a graça de se chamar assim.
L de LÁ, onde a gente fica pensando se está melhor ou pior do que aqui; de LÁGRIMA, sumo que sai pelos olhos quando se espreme o coração; e de LOUCURA, coisa que quem não tem só pode ser completamente louco.
M de MADRUGADA, quando vivem os sonhos...
N de NOIVA, moça que geralmente usa branco por fora e vermelho por dentro.
O de ÓBVIO, não precisa explicar...
P de PECADO, algo que os homens inventaram e então inventaram que foi Deus que inventou.
Q, tudo que tem um não sei quê de não sei quê.
E R, de REBOLAR, o que se tem que fazer pra chegar lá.
S é de SAGRADO, tudo o que combina com uma cantata de Bach; de SEGREDO, aquilo que você está louco pra contar; de SEXO: quando o beijo é maior que a boca.
T é de TALVEZ, resposta pior que “não”, uma vez que ainda deixa, meio bamba, uma esperança; de TANTO, um muito que até ficou tonto; de TESTEMUNHA: quem por sorte ou por azar, não estava em outro lugar.
U de UI, um “ai” que ainda é arrepio; de ÚLTIMO, que anuncia o começo de outra coisa; e de ÚNICO: tudo que, pela facilidade de virar nenhum, pede cuidado.
Vem o V, de VAZIO, um termo injusto com a palavra nada; de VOLÚVEL, uma pessoa que ora quer o que quer, ora quer o que querem que ela queira.
E chegamos ao X, uma incógnita... X de XINGAMENTO, que é uma palavra ou frase destinada a acabar com a alegria de alguém; e de XÔ, única palavra do dicionário das aves traduzida para o português.
Z é a última letra do alfabeto, que alcançou a glória quando foi usada pelo Zorro... Z de ZAGA, algo que serve para o goleiro não se sentir o único culpado; de ZEBRA, quando você esperava liso e veio listrado; e de ZÍPER, fecho que precisa de um bom motivo pra ser aberto; e de ZURETA, que é como fica a cabeçada gente ao final de um dicionário inteiro.
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Não! Não é de minha autoria, embora eu gostaria muito que fosse. É de Pedro Bial, e já perdi a conta de quantas vezes li, reli, pensei sobre.. O que mais fica na minha cabeça é: Por que não pensei nisso antes?! rs. Se tivesse pensado, será que estaria na Rede Globo? Gosto de pensar que sim.
Ultimamente tenho pensado bastante nessa coisa das PALAVRAS, sabe? No sentido que elas tem, na sua força! Amigos, Hitler não fez milagres para convencer todos que se aliaram a ele em sua monstruosa empreitada. Sabem qual foi sua única arma? A PALAVRA. Querem saber como é que as coisas que NÃO SÃO passam a ser? PELA PALAVRA. Esse assunto não acaba por aqui, voltarei a me inclinar sobre ele, mas isso em outra ocasião. Por hoje estou demasiadamente exausta para discorrer sobre qualquer coisa. (Aff!)
Tomara que tenham gostado do texto tanto quanto eu.
Até a próxima.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Do passado e de agora.

Tenho pensado em certas questões que nos cercam ao longo da vida. E ainda hoje, na aula de filosofia, a Gestalt-terapia me fez atentar mais ainda para isso. Ela simplesmente não considera tão importante o passado, mas o agora. A própria palavra Gestalt se refere, bruscamente, ao que é colocado diante dos olhos. É mais importante descrever do que explicar: o “como” precede o “porque”. O essencial é o processo que está se desenvolvendo aqui e agora.

Daí nos deparamos com algo questionador: Será que o passado é assim tão determinístico? Até que ponto minhas vivências passadas têm esse poder iminente sobre o que sou? E até que ponto cabe (se é que cabe, em algum momento) responsabilizar meu passado pelo meu presente ou futuro?

Por estes dias as pessoas estão viciadas nos medos do passado. Todas as suas dúvidas, questões, ou indecisões têm uma história mal resolvida no passado, um fantasma escondido no armário da memória, um complexo com o qual não convivem bem. É a sua muleta, que se há de fazer? Mas onde diabo fomos buscar essa idéia peregrina de que conviver com os nossos medos do passado, ou com os fantasmas que nos assombram o presente é razão suficiente para evitar erros no futuro? Escarafunchando no passado as razões para as coisas do presente e, com sorte, a solução do futuro.

Viver não é simples e está longe de ser fácil. Não será mais justo, se calhar mais acertado, perceber que se as pessoas querem algo, e depois deixam de o querer e isso não deve ser visto como incoerência, ou imputado a outra coisa que não seja o seu próprio desejo, ou vontade!?

Tornemo-nos senhores de nós mesmos! Ou, no mínimo, responsáveis pelo que somos, escolhemos, cremos, fazemos. Porque se você parar pra pensar, no final das contas é você e você. E o seu prestar de contas será individual, porque as conseqüências também serão só suas.

domingo, 22 de junho de 2008

domingo, 8 de junho de 2008

A fórmula da felicidade.


Hoje estava conversando com uns amigos sobre "análise/terapia". Disse a eles que estou morta de vontade de fazer e que, na faculdade, já disseram ser de suma importância a todo psicólogo. Às vezes penso que se até hoje não deixei de só querer e fui adiante por medo do psicólogo dizer que meu caso não tem solução.. (ui! rs) Voltando aos fatos, um desses amigos, citou, ainda que sem saber, o método da Psicanálise de Freud - associação livre - onde o paciente diz "o que lhe vem à cabeça" sem se importar se faz sentido. E quando faz isso, ele precisa organizar seus pensamentos, de forma que passa a ter uma compreensão maior da dimensão de seus problemas. Amigos, não estou aqui a definir a psicanálise, não tenho respaldo para isso. Só estou tentando explicar de forma compreensível a leigos (como eu).
Nessa situação, parei pra pensar no quanto às vezes superestimamos os problemas. Quando estamos dentro de determinadas situações, parece que uma cegueira súbita nos advém! Para comprovar isso, basta atentar ao fato de que sempre vemos soluções (ou quase sempre) para os problemas alheios quando dos nossos.. Aff! Recordo-me de que no início do semestre, questionei a um professor sobre o fato dos psicólogos não conseguirem ser as-pessoas-mais-felizes-da-terra, já que sabem transpor qualquer tipo de problema. Não faz sentido pra você? Se ele sabe resolver os problemas alheios, então que resolva também os próprios, e seja PERFEITO! Bem resolvido! Feliz! Aleluiaa! Mas amigos, sabem qual foi a resposta do professor (que por sinal é psicólogo)?
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..."Só consegue viver bem aquele (psicólogo ou não) que conhece suas emoções e vive bem com elas." Está decepcionado? Achou simplista? Redundante? Talvez. Mas me diga: Você consegue? Consegue ser humilhado e não se alterar? Consegue ficar tranqüilo em meio ao caos? Em paz, quando tudo em volta grita? Consegue ser xingado e não se exaltar? Consegue ser elogiado e não se sentir o melhor dos mortais? Consegue vencer seus desejos, sentimentos? Até que ponto? Por quê? E para quem? Será que você consegue mesmo ou só tenta se enganar? Será que há essa possibilidade?
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...Eu conheci alguém que conseguiu. Mas isso fica para uma próxima postagem.

sábado, 7 de junho de 2008




COMO ELA CRESCEU!!


sexta-feira, 6 de junho de 2008

Nossas verdades são só palpites..



Para vosso deleite: Rubem Alves.

"Como Jesus mesmo disse, Deus faz sua chuva cair sobre maus e bons, e o sol brilhar sobre justos e injustos. A água da chuva, todo mundo sabe o que é. O calor do sol, todo mundo sabe o que é. A confusão sobre Deus – chuva e sol – começa quando religiões afirmam que prá se molhar na chuva e se aquecer ao sol é preciso ter idéias certas sobre a chuva e o sol, idéias que só elas têm, e que se chamam dogmas. Essas religiões pensam que conseguiram engaiolar Deus. Deus só existe dentro delas. Religiões são gaiolas vazias. Não. Não estão vazias. Dentro delas há um pássaro empalhado. Mas Deus é um pássaro em vôo... Há um ditado judeu que diz: “Os homens pensam. Deus ri.” Ele se ri das bobagens que pensamos sobre ele – ou ela, não estou bem certo. O mar também se riria de nós..."

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Que vontade de chorar.. Rubem Alves


Era uma manhã fresca e transparente de primavera. Parei o carro na luz vermelha do semáforo. Olhei para o lado – e lá estava ela, menina, dez anos, não mais. O seu rosto era redondo, corado e sorria para mim. “O senhor compra um pacotinho de balas de goma? Faz tempo que o senhor não compra...” Sorri para ela, dei-lhe uma nota de um real e ela me deu o pacotinho de balas. Ela ficou feliz. Aí a luz ficou verde e eu acelerei o carro, não queria que ela percebesse que meus olhos tinham ficado repentinamente úmidos.Quando eu era menino, lá na roça, havia uma mata fechada. Os grandes, malvados, para me fazer sofrer, diziam que na mata morava um menino como eu. “Quer ver?”, eles perguntavam. E gritavam: “Ô menino!” E da mata vinha uma voz: “Ô menino!” Eu não sabia que era um eco. E acreditava. Nas noites frias, na cama, eu sofria, pensando no menino, sozinho, na mata escura. Onde estaria dormindo? Teria cobertores? Os seus pais, onde estariam? Será que eles o haviam abandonado? É possível que os pais abandonem os filhos?Sim, é possível. João e Maria, abandonados sozinhos na floresta. Os seus pais os deixaram lá para serem devorados pelas feras. Diz a estória que eles fizeram isso porque já não tinham mais comida para eles mesmos. Será que os pais, por não terem o que comer, abandonam os filhos? Será por isso que as crianças são vistas freqüentemente na floresta vendendo balas de goma? Será que havia balas de goma na cesta que Chapeuzinho Vermelho levava para a avó? Será que a mãe de Chapeuzinho queria que ela fosse devorada pelo lobo? Essa é a única explicação para o fato de que ela, mãe, enviou a menina sozinha numa floresta onde um lobo estava à espera.Num dos contos de Andersen uma menininha vendia fósforos de noite na rua (se fosse aqui estaria num semáforo), enquanto a neve caía. Mas ninguém comprava. Ninguém estava precisando de fósforos. Por que uma menininha estaria vendendo fósforos numa noite fria? Não deveria estar em casa, com os pais? Talvez não tivesse pais. Fico a pensar nas razões que teriam levado Andersen a escolher caixas de fósforos como a coisa que a menininha estava a vender, sem que ninguém comprasse. Acho que é porque uma caixa de fósforos simboliza calor. Dentro de uma caixa de fósforos estão, sob a forma de sonhos, um fogão aceso, uma panela de sopa, um quarto aquecido... Ao pedir que lhe comprassem uma caixa de fósforos numa noite fria a menininha estava pedindo que lhe dessem um lar aquecido. Lar é um lugar quente. Pois, se você não sabe, consulte o Aurélio. E ele vai lhe dizer que o primeiro sentido de “lar” é “o lugar da cozinha onde se acende o fogo.” De manhã a menininha estava morta na neve, com a caixa de fósforos na mão. Fria. Não encontrou um lar.Um supermercado é uma celebração de abundância. No estacionamento as famílias enchem os porta-malas dos seus carros com coisas boas de se comer. “Graças a Deus!”, eles dizem. Do lado de fora, os famintos, que os guardas não deixam entrar. Se entrassem no estacionamento a celebração seria perturbada. “Dona, me dá uns trocados?” O menino estava do lado de fora. Rosto encostado na grade, o braço esticado para dentro do espaço proibido, na direção da mulher. A mulher tirou um real da bolsa e lhe deu. Mas esse gesto não a tranqüilizou. Queria saber um pouco mais sobre o menino. Puxou prosa. “Para que você quer o dinheiro?” perguntou. “Prá voltar prá onde eu durmo.” “E onde é a sua casa?” “Não vou voltar prá casa. Eu não moro em casa. Eu durmo na rua. Fugi da minha casa por causa do meu pai...”Em muitas estórias o pai é pintado como um gigante horrendo que devora as crianças. Na estória do “João e o pé de feijão” ele é um ogro que mora longe, muito alto, nas nuvens, onde goza sozinho os prazeres da galinha dos ovos de ouro e da harpa encantada. Mãe e filho, lá embaixo, morrem de fome. Por vezes as crianças estão mais abandonadas com os pais que longe deles. Como aconteceu com a Gata Borralheira. Seu lar estava longe da mãe-madrasta e das irmãs: como uma gata, o borralho do fogão era o único lugar onde encontrava calor.E comecei a pensar nas crianças que, para comer, fazem ponto nos semáforos, vendendo balas de goma, chocolate bis, biju. Ou distribuindo folhetos... Ah! Os inúteis folhetos que ninguém lê e ninguém quer e que serão amassados e jogados fora. O impulso é fechar o vidro e olhar para a criança com olhar indiferente – como se ela não existisse. Mas eu não agüento. Imagino o sofrimento da criança. Abro o vidro, recebo o papel, agradeço e ainda pergunto o nome. Depois, discretamente, amasso o papel e ponho no lixinho...E há também os adolescentes que querem limpar o pára-brisa do carro por uma moeda. Já sou amigo da “turma” que trabalha no cruzamento da avenida Brasil com a avenida Orozimbo Maia. Um deles, o Pelé, tem inteligência e humor para ser um “relações públicas”...Lembro-me de um menino que encontrei no aeroporto de Guarapuava. No seu rosto, mistura de timidez e esperança. “O senhor compra um salgadinho para me ajudar?” Ficamos amigos e depois descobrimos que a mulher para quem ele vendia os salgadinhos o enganava na hora do pagamento...Um outro, no aeroporto de Viracopos, era engraxate. O pai sofrera um acidente e não podia trabalhar. Tinha de ganhar R$ 20.00. Mas só podia trabalhar enquanto o engraxate adulto, de cadeira cativa, não chegava. Tinha, portanto, de trabalhar rápido. Tivemos um longa conversa sobre a vida que me deixou encantado com o seu caráter e inteligência – ao ponto de ele delicadamente me repreender por um juízo descuidado que emiti, pelo que me desculpei.E me lembrei das meninas e meninos ainda mais abandonados que nada têm para vender e que, à noitinha, nos semáforos (onde serão suas casas?), pedem uma moedinha...Houve uma autoridade que determinou que as crianças fossem retiradas da rua e devolvidas aos seus lares. Ela não sabia que, se as crianças estão nas ruas, é porque as ruas são o seu lar. Nos semáforos, de vez em quando, elas encontram olhares amigos.Os especialistas no assunto já me disseram que não se deve ajudar pessoas nos semáforos, pois isso é incentivar a malandragem e a mendicância. Mas me diga: o que vou dizer àquela criança que me olha e pede: “Compre, por favor...”? Vou lhe dizer que já contribuo para uma instituição legalmente credenciada? Me diga: o que é que eu faço com o olhar dela?Minhas divagações me fizeram voltar ao Irmãos Karamazóvi, de Dostoiévski. Um dos seus trechos mais pungentes é uma descrição que faz Ivan, ateu, a seu irmão Alioscha, monge, da crueldade de um pai e uma mãe para com a sua filhinha. “Espancavam-na, chicoteavam-na, espisoteavam-na, sem mesmo saber por que o faziam. O pobre corpinho vivia coberto de equimoses. Chegaram depois aos requintes supremos: durante um frio glacial, encerraram-na a noite inteira na privada sob o pretexto de que a pequena não pedia para se levantar à noite (como se um criança de cinco anos, dormindo o seu sono de anjo, pudesse sempre pedir a tempo para sair!). Como castigo, maculavam-lhe o rosto com os próprios excrementos e a obrigavam a comê-los. E era a mãe que fazia isso – a mãe! Imagina essa criaturinha, incapaz de compreender o que lhe acontecia, e que no frio, na escuridão e no mau cheiro, bate com os punhos minúsculos no peito, e chora lágrimas de sangue, inocentes e mansas, pedindo a ‘Deus que a acuda’. Todo o universo do conhecimento não vale o pranto dessa criança suplicando a ajuda de Deus.”Num parágrafo mais tranqüilo o starets Zossima medita “Passas por uma criancinha: passas irritado, com más palavras na boca, a alma cheia de cólera; talvez tu próprio não avistasses aquela criança; mas ela te viu, e quem sabe se tua imagem ímpia e feia não se gravou no seu coração indefeso! Talvez o ignores, mas quem sabe se já disseminaste na sua alminha uma semente má que germinará! Meus amigos: pedi a Deus alegria! Sede alegres com as crianças, como os pássaros do céu.”Quando essas imagens começaram a aparecer na minha imaginação comecei a ouvir (essas músicas que ficam tocando, tocando, na cabeça...) sem que a tivesse chamado aquela canção “Gente humilde”, letra do Vinícius, música do Chico. “Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar...” Pelo meio o Vinícius conta da sua comoção ao ver “as casas simples com cadeiras nas calçadas e na fachada escrito em cima que é um lar”. Termina, então, dizendo: “E aí me dá uma tristeza no meu peito feito um despeito de eu não ter como lutar. E eu que não creio peço a Deus por minha gente. É gente humilde. Que vontade de chorar.”Se fosse hoje o Vinícius não teria vontade de chorar. Ele riria de felicidade ao ver as cadeiras nas calçadas e as fachadas escrito em cima que é um lar... Vontade de chorar ele teria vendo essa multidão de crianças abandonadas, entregues ou à indiferença ou à maldade dos adultos: “E aí me dá uma tristeza no meu peito feito um despeito de eu não saber como lutar...” Só me restam meu inútil sorriso, minhas inúteis palavras, meu inútil Real por um pacotinho de balas de goma...1. Se dependesse de mim, nas escolas onde se formam os professores haveria cursos de “Como amar uma criança”. E a pergunta decisiva a todos os que pretendessem ser professores seria: “Você ama as crianças?” Essa é a primeira condição. Quem não ama uma criança não tem o direito de ser professor – ainda que tenha todas a teorias na cabeça.2. “Nosso mais forte elo com a vida é o franco e radiante sorriso de uma criança”: Janusz Korczak. Janusz Korczak foi um educador polonês que morreu com as crianças judias de sua escola. Tendo lhe sido oferecida a possibilidade de liberdade, escolheu entrar com elas na câmara de gás de Treblinka.


(Correio Popular, Caderno C, 14/10/2001.)

domingo, 1 de junho de 2008

Como pensa seu coração?

Enganoso é coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?
(Jeremias 17:9)
MAS..
E lhes darei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne.
(Ezequiel 11:19)
E ENTÃO:
Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus.
(1 João 3:21)

Há algo sobre o homem que o agente funerário não pode embalsamar; que os coveiros não podem tocar. Como um ser físico, o homem tem um coração e através de suas contrações rítmicas o sangue, que é a vida da carne, circula pelo corpo e assim a vida é mantida. Como um ser espiritual, o homem também tem um coração. Os psicólogos classificam as faculdades da alma como: mente, coração e vontade. Eles fazem da mente a base do entendimento; o coração a base da afeição e a vontade a base da escolha e da decisão. A Bíblia usa o coração como uma metáfora do espírito humano. O homem pensa com o coração, entende com o coração, ama com o coração, escolhe com o coração e toma decisões com o coração. Pelo menos, deveria. E deveria pelo simples fato de que esse encargo lhe foi concedido pelo próprio Deus. Ele não ousaria dizer que "se o nosso coração não nos condena, temos confiança diante de Deus", se esse coração ainda fosse, digamos, enganoso. Concordam, amigos?
Como o homem pensa em seu coração, assim ele é. (Provérbios 23:7)
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"Faça o que ele manda. Ouça o que ele diz. Confie nele. Não o entregue tão facilmente, mas coloque-o em tudo o que você faz. Deixe-o bater forte. Mantenha quem você ama perto dele seja ele mole ou feito de pedra. Cuide bem dele! Ele é a coisa mais importante que você possui.. Ame seu coração!"