terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Eu procurei lá fora e não estava. Vasculhei o baú, revirei as gavetas, espalhei tudo na estante, procurei nos livros empoeirados e tudo que eu encontrei foi um cheiro velho de senso comum. Um cheiro de inquietação banhado de incerteza. Eu ainda não sabia que a "a procura por si só já era o que eu queria achar". E não sabia, também, que por mais dourado que seja o pote no final do arco-íris, ele não será tão rico, a menos que ao encontrá-lo, tenha-se a certeza de que o tesouro maior foi a busca, o desejo de ali chegar e a ilusão do que seria. Só sabe quão venturoso é o caminho aquele que já passou. E como podem ser solitárias as andanças de um desbravador! Só quem mergulhou por estas águas pode dizer do seu gosto.
"E o resto é mar.. É tudo que eu não sei contar!"
P.S.: Pode desligar o telefone se eu ficar muito abstrata.

O Vigiador


"Toda a minha vida, tive medo de homens velando sobre mim. Suponho que o primeiro homem a velar sobre mim foi meu pai, mas ele sumiu antes que eu pudesse recordá-lo. Por alguma razão, quando eu era menino, gostava de brigar. Grande parte das vezes eu perdia. Outro menino, às vezes com sangue pingando do nariz, erguia-se acima de mim. Muitos anos depois precisei me esconder. Procurava não dormir, porque tinha medo de quem estaria lá quando eu acordasse. Mas tive sorte, era sempre meu amigo. Quando estava escondido, eu sonhava com um certo homem. O mais difícil foi quando viajei para ir ao encontro dele. Por pura sorte e depois de muitas passadas, consegui. Fiquei dormindo por muito tempo. Três dias, disseram-me... E o que encontrei ao acordar? Não um homem, mas uma outra pessoa a me vigiar. Com o passar do tempo, a menina e eu descobrimos que tínhamos muitas coisas em comum. Mas há uma coisa estranha: a menina diz que eu pareço outra coisa. Agora moro num porão. Os sonhos ruins ainda vem no meu sono.Uma noite, após meus pesadelos habituais, uma sombra ergueu-se sobre mim. Ela disse: conte-me o que você sonha. E eu contei. Em troca, ela me contou do que eram feitos seus próprios sonhos. Agora, acho que somos amigos, essa menina e eu. Em seu aniversário, foi ela quem deu um presente - a mim. Isso me fez compreender que o melhor vigiador que eu conheci não é um homem."



(Trecho extraído do livro "A Menina Que Roubava Livros")



Não sei o por quê, mas já li e reli essa parte pelo menos um milhão de vezes. Quem leu o livro, sabe do que estou falando. Marcus Zusak tem a linguagem que todo ser humano deveria ter: ele é simples. Humana e sabiamente simples. As palavras são suas súditas, e ele o seu senhor. Ele consegue marcar um coração atento às minúncias dessa vida.. O meu foi um desses.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

À criança que essa pessoa grande já foi.


Pra que a gente cresce? Se a gente fica bobo, fica feio, fica sério, fica preocupado, fica maldoso, fica chato, fica exigente! Por que eu não posso ficar pra sempre inocente? Por que eu tenho que crescer? Pra que eu vou ter que mudar? Me readaptar. Pra que, se dói tanto?
Por que é mesmo que a gente vira gente grande? Por que a gente não fica criança pra sempre? Por que a gente não mudou pra Terra do Nunca enquanto era tempo?
Agora eu cresci e fiquei crítica. Eu fiquei burra, não sei mais explicar a vida. Nem sei entender as coisas.
Eu fiquei, de repente, ruim, cruel. Eu fiquei fria. Eu fiquei metida, eu não ando mais descalço por que as outras pessoas grandes podem pensar que eu não sei ser grande direito.
Eu busco respostas maiores pra perguntas que são tão simples.
Eu já não tolero o outro, eu não sou tão doce, não sou tão singela. Eu agora gosto de coisa cara, de coisa que as outras pessoas grandes também gostam.
Eu não vejo desenho, não leio revistinha da Mônica. Eu nem sei como são as brincadeiras que eu gostava..
Agora eu me preocupo com as contas no fim do mês, com as notas da faculdade e com o rumo que eu vou dar à minha vida.
Era tudo tão simples! Era tudo tão mágico quando o amanhã não importava.
Agora eu preciso de tempo e não encontro. Eu não sei onde deixei! Preciso da simplicidade de outrora e já não acho. Não sei onde deixei.. Preciso daquele gosto de manga roubada, do calor do asfalto queimando os meus pés, preciso do meu primeiro caderno! Eu queria tanto achar, mas eu não sei onde deixei.. Preciso da Valquíria menina, despreocupada, inocente que eu não sei onde deixei.