terça-feira, 3 de maio de 2011

Poeira é a vontade que o chão tem de voar.

Na dança dos anos, aproxima/retrai. Quando não é parece ser, quando é.. Quando é? Sempre é. É quando eu sonho, quando espero, quando me permito, quando não vigio, quando me contento. Não é. Não é? Mas o que é? Tem nome? Qual sua cor? Seus adjetivos, seu cheiro? Só sei onde mora. Nem onde nasce, nem onde morre. Se é que morre, se é que nasceu. Eu só sei onde mora. No bailar do tempo, quando parece que fica, se vai. E se vai, fica. Não arreda pé. Me ensina a perder. Me ensina a perder? Me ensina a perder! enSina a pErdeR.

Arma-dura.

EU conheci um ser humano que entrou em um quarto pra morar. Não se sabe que dia foi, nem por que razão. Só se sabe que de lá não saiu mais, pelo menos até então. O interessante é que onde ia levava consigo seu quarto. Aquele quarto bonito, onde ninguém mais podia entrar. Quem olhava, duvidava: "Será que tem gente aí?"

Inextrincáveis eles viviam: O ser humano dentro do quarto. Se falava, era lá de dentro. De dentro do quarto. Se queriam ouví-lo, necessário era chegar bem perto. Bem perto do quarto.

Instalado o frio, desacostumando ao calor, qualquer contato passou a assustá-lo - tal qual um bicho desses que se vê. Bicho que recua se você se aproxima demais. Dos bichos que te atacam querendo se defender, quando - na verdade - só não sabem o que fazer.

Só que alguma coisa aconteceu dentro de suas paredes inabaláveis. Não se sabe se mais irresistível foi o barulho lá fora ou mais obsoleto o silêncio aqui dentro. Achava que já não bastava ser humano e quis ser-no-mundo. Ser fora, ser-para-fora, ser-para-eles, ser-com-eles. Algo estava para acontecer. O ser humano em questão, que já não se aguenta em sua solidão, resolveu sair pra brincar.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Pra que esses olhos tão grandes?


L. M. cresceu em um lar desestruturado. Morava em uma pequena casa no subúrbio, sua família era composta pela mãe, o pai e sete irmãos. Falta de tempo, simples desapego, não se sabe, seus pais não souberam fazer com que o menino internalizasse as regras básicas de convivência social. L. M. cresceu sem leis.
Não era bonito, mas parecia possuir alguma coisa que atraia as pessoas. Tinha um carisma incrível! Líder nato, estava sempre à frente nas brincadeiras. Era dono de eloqüência invejável e podia convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa. L. M. se utilizava do dom de ludibriar e enganava as pessoas à sua volta com grande facilidade. Parecia não ver diferença entre sinceridade e falsidade. Embora não se dedicasse à escola, L. M. tinha inteligência acima da média, se destacando entre os colegas. Vivia com a cabeça nas nuvens, se vangloriava de inverdades, fantasiava situações que não existiam... “Rei do mundo! Rei de todos!” Extremamente egoísta, não se importava com o resto das pessoas, contanto que as coisas fossem favoráveis a ele. Era um sujeito frio, não tinha compaixão, não manifestava qualquer reação ao sofrimento dos demais. Assim como daltônicos não conseguem ver cores, era incapaz de enxergar emoções. Seu relacionamento com as pessoas era por pura conveniência. Não tinha amigos, apenas interesses. O mais incrível é que L. M. não se arrependia de qualquer que fosse a conduta inapropriada que tivesse. Aos seus olhos, estava sempre certo.
Um dia, enquanto voltava para casa, L. M. viu de longe uma menina que parecia perdida. Ela usava um vestido vermelho, falava ao celular, parecia ser a típica menina rica, chamando a atenção de nosso protagonista, que se aproximou:
_O que uma menina tão bonita faz sozinha aqui a essa hora da noite? Não sabe que é perigoso?
A menina não respondeu, apenas olhou para os lados no intuito de ver se estavam sozinhos.
_Não precisa ter medo de mim, eu sou policial. Percebi que você parecia perdida e talvez possa te ajudar. Para onde está indo?
_Estou indo para a casa da minha avó, mas acho que realmente me perdi. O endereço está nesse papel, mas nunca fui até lá sozinha.
Percebendo a ingenuidade e confiança da menina, prosseguiu em sua investida, certo de que levaria alguma vantagem naquilo.
_Sem querer ser indiscreto, o que você vai fazer, tão tarde, na casa de sua avó?
_Sabe o que é? Ela mora sozinha e está muito doente. Como meus pais estão viajando, estou indo ver se está tudo bem.
_Huuuuuum! Entendo. Mas sua avó não tem ninguém que cuide dela?
_Ela tem um temperamento muito difícil, sabe como é, sempre foi muito rica e prepotente. Os empregados não ficam muito tempo, não aguentam.
Nesse momento os olhos de L. M. brilharam! Velha? Doente? Rica? Sozinha? Indicou para a menina um caminho totalmente errado, fazendo com que ela desse muitas voltas e demorando uma hora para chegar. Era o tempo que ele precisava! Não precisamos entrar em detalhes quanto ao desfecho desta história. Basta dizer que quando a menina chegou, a porta estava arrombada, a casa totalmente revirada, todos os pertences de valor foram levados.
Contos de fadas? Ficção? Vida real? De acordo com as estatísticas oficiais, 4% da população mundial é composta de psicopatas, em níveis leve, moderado ou severo. Suas condutas serão definidas pelo nível em que ele se encontra. Ele não é, necessariamente um serial killer, mas não medirá esforços para conseguir o que quer. Estudos atuais nesse sentido declaram que a pessoa nasce psicopata, em razão de um funcionamento anormal do sistema límbico, unidade responsável pelas emoções. Psicopatia não tem cura, não há como mudar sua maneira de ver e sentir o mundo. Não se trata de uma doença mental, é um transtorno de personalidade, ou seja, um modo de ser.
O Lobo mal saiu da floresta faz tempo. Ele tem olhos grandes, mas não é pra te ver melhor.

domingo, 7 de junho de 2009

A insustentável leveza do ser.


Eu sou: Primeira verdade fundamental.

Somos seres finitos, frágeis. Fomos lançados no mundo sem ter escolhido uma série de coisas. Alguns mais cedo, outros mais tarde, não importa, estamos a cada dia mais próximos do ponto final.

Eu vou deixar de ser: Segunda verdade fundamental.

O existencialismo de Sartre tem como premissa básica o fato de que "a existência precede a essência": Antes de me definir no mundo, eu existo. Quando o homem se depara com essa realidade - eu sou e por isso deixarei de ser - uma grande angústia lhe sobrevem. Alguns esperarão por um bom fim, outros se prenderão à crença da vida após a morte, podem querer deixar vestígios de sua existência para lidar com sua finitude (um filho, um livro, uma árvore) ou apenas tentar esquecer, embora não consigam por muito tempo. Enquanto tenta fugir de sua condição humana, o homem fracassa. Quando a aceita, ele está exposto à possibilidade do prazer. Nisso se resume a insustentável leveza do ser: Eu sou e, a qualquer momento, posso não mais ser. O que fazer?

Um dos maiores pilares do medo é o desconhecido. Me amedronta a possibilidade do que virá, a incerteza do futuro, a estranheza do que há de ser. "E se eu não estiver preparado? Como vai acontecer?". Ao ser confrontado por essa mortalidade eminente, ao homem não resta outra alternativa se não a busca de dar sentido ao tempo que lhe resta. O fato de perceber que não está restrito a uma forma de ser, acalenta sua existência.

A cada encontro está destinada uma separação, inevitavelmente. A exata medida da significância do encontro, só temos na separação. Alguém, que já tenha tido uma experiência de perda, não se encontra para não se separar. Deixa sua própria vida se esvair e com ela suas possibilidades, apenas pelo receio do desencontro. Outro, apesar do risco da separação, se encontra. Nisso repousa a magnitude de SER. Diante de um existir que, a qualquer momento, pode lhe ser tirado, o homem deveria apoderar-se de cada instante. A despeito de qualquer que tenha sido sua frustração, ele deveria zelar pelo desabrochar da riqueza humana. O crescimento do homem é DELE. É nas coisas mais importantes que estamos indizivelmente sós.. "Vá em direção àquilo que você teme e relacione-se com ele."

terça-feira, 21 de abril de 2009

O lobo mau no divã.


Alguém se habilita a dizer do que é feito um vilão?
Não? Então prepare seu coração.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Eu procurei lá fora e não estava. Vasculhei o baú, revirei as gavetas, espalhei tudo na estante, procurei nos livros empoeirados e tudo que eu encontrei foi um cheiro velho de senso comum. Um cheiro de inquietação banhado de incerteza. Eu ainda não sabia que a "a procura por si só já era o que eu queria achar". E não sabia, também, que por mais dourado que seja o pote no final do arco-íris, ele não será tão rico, a menos que ao encontrá-lo, tenha-se a certeza de que o tesouro maior foi a busca, o desejo de ali chegar e a ilusão do que seria. Só sabe quão venturoso é o caminho aquele que já passou. E como podem ser solitárias as andanças de um desbravador! Só quem mergulhou por estas águas pode dizer do seu gosto.
"E o resto é mar.. É tudo que eu não sei contar!"
P.S.: Pode desligar o telefone se eu ficar muito abstrata.

O Vigiador


"Toda a minha vida, tive medo de homens velando sobre mim. Suponho que o primeiro homem a velar sobre mim foi meu pai, mas ele sumiu antes que eu pudesse recordá-lo. Por alguma razão, quando eu era menino, gostava de brigar. Grande parte das vezes eu perdia. Outro menino, às vezes com sangue pingando do nariz, erguia-se acima de mim. Muitos anos depois precisei me esconder. Procurava não dormir, porque tinha medo de quem estaria lá quando eu acordasse. Mas tive sorte, era sempre meu amigo. Quando estava escondido, eu sonhava com um certo homem. O mais difícil foi quando viajei para ir ao encontro dele. Por pura sorte e depois de muitas passadas, consegui. Fiquei dormindo por muito tempo. Três dias, disseram-me... E o que encontrei ao acordar? Não um homem, mas uma outra pessoa a me vigiar. Com o passar do tempo, a menina e eu descobrimos que tínhamos muitas coisas em comum. Mas há uma coisa estranha: a menina diz que eu pareço outra coisa. Agora moro num porão. Os sonhos ruins ainda vem no meu sono.Uma noite, após meus pesadelos habituais, uma sombra ergueu-se sobre mim. Ela disse: conte-me o que você sonha. E eu contei. Em troca, ela me contou do que eram feitos seus próprios sonhos. Agora, acho que somos amigos, essa menina e eu. Em seu aniversário, foi ela quem deu um presente - a mim. Isso me fez compreender que o melhor vigiador que eu conheci não é um homem."



(Trecho extraído do livro "A Menina Que Roubava Livros")



Não sei o por quê, mas já li e reli essa parte pelo menos um milhão de vezes. Quem leu o livro, sabe do que estou falando. Marcus Zusak tem a linguagem que todo ser humano deveria ter: ele é simples. Humana e sabiamente simples. As palavras são suas súditas, e ele o seu senhor. Ele consegue marcar um coração atento às minúncias dessa vida.. O meu foi um desses.